A Água ( ou a falta dela )
Sempre foi um dos problemas de todos nós militares, quer nos aquartelamentos quer fora deles. No mato,
nas operações, sempre geri, mais ou menos, o seu consumo há excepção de uma vez, ainda era muito checa, que
quis leite fresquinho e então coloquei leite condensado num cantil para no outro dia de manhã estar fresquinho. Fresco
estava, mas estragado e tinha dado cabo de metade da minha ração de água.
Antes das operações levávamos dois cantis, de cerca de um litro cada, que geralmente dava para os quatro dias
de mato. Sempre que abastecia nos riachos tinha o cuidado de colocar no cantil os comprimidos contra parasitas, e
sempre chamei à atenção os camaradas da minha secção para tal acção. Tinha 22 aninhos, e claro que me cansava
descer e subir os montes, debaixo daquele sol abrasador, mas sempre tive capacidade de sofrimento e lá ia aguentando.
Sempre que havia operações de mais de quatro dias era vulgar levarmos sacos de plastico,
fechados à máquina, que iamos introduzindo nos cantis quando estes " secavam ". O meu amigo Marcelino, que
era caçador nos vales e montanhas em Portugal, era o que melhor geria a água ao ponto de ser o único que
lavava os dentes nas operações, o que nós diziamos que " estragava " a água tão preciosa. Uma das vezes que
fizemos operações a nivel de batalhão, fomos com uma companhia de Diaca, e o seu capitão, provavelmente
não muito habituado a essas " andanças " , quis comprar um cantil ao meu amigo Marcelino, este recusou
mesmo que o capitão tenha tentado mais algumas vezes, mesmo com subido do preço.
Em Mueda tinhamos um bom local de abastecimento do preciso líquido, a cerca de 5 quilómetros
do quartel, onde era bombada para um depósito e distribuida para civis e militares.
Que bom que era, quando acabada as operações, vindo do mato, chegar ao quartel e tomar
um bom banho, mesmo Maconde.
Linda-a-Velha, Agosto de 2020
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