Avô, avô
Tempos revoltosos, tempos dificeis. Pegou na foto, já amarelecida pelo tempo, e foi
ter com o Avô.
- Avô, avô, olha o que encontrei.
Sentado na poltrona, lá estava o Avô a dormitar ou talvez sonhando com a sua vida cheia de
memórias e vivências já passadas.
- Avô quando tiraste esta fotografia, quem são os militares, tu também estás aí?????????
Sim Pedro, estou. Na tua escola nunca falam da guerra colonial????
- Não Avô, nunca falaram nisso.
Infelizmente hoje isso é uma realidade, mas o Avô vai contar-te o que foi esse tempo de guerra,
de sofrimento e morte para muitos jovens.
Naquele tempo o serviço militar era obrigatório, ao contrário de hoje em que é para voluntários.
Tinhamos territórios Ultramarinos a que chamavam Provincias. Os negros, absolutamente maioritários
queriam ser livres e governarem os seus próprios paises. Tentaram dialogar mas não tinham resposta dada
pelo nosso governo de então, que sempre rejeitaram qualquer negociação politica. Não lhes deram alternativa
e tiveram que pegar em armas para conseguirem a independência. Então, durante quatorze anos, eu e muitos
jovens daquele tempo fomos para África defender esses territórios. Aí lutamos com bravura, mihares de feridos,
muitos mortos e muitos vieram com mazelas para toda a vida. Esta foto que estás ver a ver, foi tirada após uma
emboscada em que estavamos a colocar um camarada ferido, com gravidade, numa maca improvisada e ficamos
à espera da chegado do hilicóptero para o levar pafra o hospital militar mais próximo. Com vês a nossa juventude
não teve uma vida fácil.
- É verdade Avô, por aquilo que me contas vocês foram bravos soldados. Tenho pena que os nossos governantes
tenham apagado e esquecido esse período triste e dramático da nossa história. Restam-nos, Avô, as tuas
memórias e testemunhos de muitos outros militares felizmente ainda vivos, para contarem e lembrarem
esses tempos.
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