Hoje, através do noticiário da TSF, - Bom jesus em Braga tem estrada a subir que os carros fazem em ponto morto -, lembrei-me
de um episódio passado há muitos anos.
Entrei para o serviço militar em Janeiro de 66 em
Tavira e por lá fiquei até Junho do mesmo ano.Completado
o curso, lá rumei para a
Escola Prática de Infantaria,
em Mafra e aí ,como Cabo Miliciano, entrei para um
pelotão, comandado por um Alferes do Quadro Permanete,
que foi dar recruta a jovens do Curso
de Oficiais Milicianos.Neste mundo há sempre varias
personalidades, vários feitios e diferentes formas
de encarar as adversidades.Sempre
que havia instrução fisica, aparecia sempre o mesmo
elemento com queixas que ora sendo da perna, até coxeava,
ora do cansaço geral, não queria fazer tanto
esforço.Com o tempo comecei a notar que era sempre o mesmo e que
começou
a vir com companhia, mas sempre
queixando-se do excesso da preparação fisica, mas sempre,
e isso é que me cativou, com uma argumentação
que por vezes me levou a comtemporizar.
Quando o curso acabou , o pelotão reuniu-se para um
jantar na Ericeira, e como já estáva mobilizado
despedi-me de toda a gente
e ,obviamente, do meu novo amigo
-João Guimaraes da Azambuja -, que nessa altura me afirmou que nos iríamos encontrar no Ultramar.
Entretanto apareceu Chaves, apareceu Santa Margarida,
apareceu o Niassa e apareceu, também, Mueda.Já aqui
estáva há
tempo suficiente, para pensar
em férias, quando surge alguém na minha flat dizendo-me
que estáva lá fora um Alferes que queria
falar comigo.Perante a minha
resposta, entra-me alguém a quem eu faço a devida
continência, obtendo por resposta - Vá fazer continência para o CARAGO
- ( É do Norte ). Não queria acreditar que perante mim
estáva o meu amigo , e contador de histórias, Azambuja.
Depois do primeiro impacto, lá nos
abraçámos efusivamente, e foi contando a história
da sua vida militar até ao noso encontro.
Em Lisboa tinha-me visto na
televisão, a falar para os familiares, e ,segundo ele, garantiu
que me iria visitar.
Continou a contar-me como ali foi parar.Já sabia
que eu estáva em Mueda e que teriamos que nos
encontrar.Então num fim
de tarde, quando o
pelotão que comandáva regressava ao aquartelamento, vindo
de uma operação, o Capitão da Companhia mandou
os soldados do seu
pelotão capinar a zona de segurança em redor do
aquatelamento.Aí começou o problema com o meu amigo
Azambuja, que
respondeu ao Capitão que não punha os seus homens ,
regressados do mato, a capinar porque quem o deveria fazer era
o pessoal que tinha
ficado no aquartelamento.Palavra puxa palavra, o Capitão
não cedia e o meu amigo também não, e já
com o ambiente
bastante quente o meu amigo disse-lhe - leva com o cinzeiro na cabeça se mandar, novamente, os meus homens capinar -.A partir
deste momento
teria que haver uma solução, que foi encontrada com a sua
ida para a consulta externa no hospital em Nampula. Nós,
em Mueda, chamávamos a estes casos - Apanhados pelo Clima -.
Entretanto lá fui de férias para
Nampula, com boleia numa Dornier da Força Aérea, e
passados alguns dias aparece o meu amigo
Azambuja,
que nos fêz companhia, a mim e ao Lemos, no cinema e na
piscina.Com o passar dos dias o meu tempo terminou e despedi-me
do meu amigo com um forte abraço e um ATÉ SEMPRE.
De novo em Mueda mais um tempo, com ida para
Vila Coutinho e, ENFIM, o regresso a Lisboa.
Numa viagem pelo norte do país,
concretamente em Braga, fui ao café Arcádia e perguntei a um
empregado pelo meu amigo
Azambuja, fui informado
que o conhecia e que mais logo seria a hora habitual de ele
aparecer.Lá estive,ao cair da noite, e o Azambuja
lá
estáva sentado a uma mesa.De novo um forte abraço e mais
umas histórias contadas e então veio um convite da sua
parte - vamos
ao Bom Jesus porque conheço uma estrada que sobe e
os carros deslizam em ponto morto -. A minha resposta não se fez
esperar e
disse-lhe que era mais uma história á AZAMBUJA!!!!!!.
Bem, lá fomos com a companhia do
amigo Giesteira ( outro amigo de tempo de Mafra ) e
tomámos o café na esplanada.
Quanto á tal estrada ( fiquei
a saber pela TSF ) que quando colocaram o nível ela de
facto deslizava e que a tal subida
seria uma ilusão.
José Fernando Pascoal Monteiro
( Ex-Furriel Miliciano )