Hoje é Domingo, não trabalho

            Estamos no verão, levanto-me com calma, sem pressa, tomo o meu banho de água quente,

    detesto água fria, visto-me e vou ao estabelecimento dos meus Pais para o pequeno almoço. Uma torrada

    e um galão é o suficiente até ao almoço. Saio e vou direito ao engraxador habitual para por os sapatos

    a brilhar, acabado o serviço encosto-me ao muro do lavadouro de roupa camarário ali no Rio Sêco, dobro a perna e

    coloco um sapato encostado á parede e espero pelos meus amigos. O sol da manhã aquece-me, sinto-me bem

    e revigorado.

                Começam a aparecer os meus amigos, grande parte da escola, dois ou três dedos de conversa e combinamos

    uma ida ao cinema, normalmente cinema de bairro que dão dois filmes e fica mais barato. Hoje fomos mais ousados

    e decidimos pelo cinema Restelo, que sendo igualmente de bairro, é mais " finório " e apenas dá um filme.

                O meu Belém não joga em casa,   caso contrário tínhamos encontro marcado para o estádio

    do Restelo para apoiar a nossa equipa.

                Começo a sentir um pouco de frio e humidade e,  lá muito ao longe, ouço chamar  por Monteiro, não

    ligo, eu sou José Fernando e é assim que me tratam. Acordo repentinamente com um forte  abanão do meu amigo

    e camarada Correia Alves. Estou no Vale de Miteda, é  noite cerrada,  visto a camisola de lã e coloco o poncho

    ou uma capa qualquer. A chuva intensifica-se , é a ép
oca dela. Contra o que sempre foi habitual, sempre dormi mal,

    adormeci e até sonhei. A chuva para com o alvorecer e ai vem o sol para secar a roupa. Pequeno almoço rápido e

    formação habitual em bicha de pirilau.

                Está no subir, está no descer, e nunca mais chega o ir para o quartel. Foi assim a vida durante treze meses.

                                José Fernando Pascoal Monteiro

                                 Linda-a-Velha, Setembro e 2021

   
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