No aquartelamento em Mueda já constava que a guarnição de Nacatar, já tendo
sofrido varios ataques, tinha enviado uma mensagem em que comunicara que abandonaria
o quartel, se não recebesse reforços.
Perante este cenário,
lá fomos nós com dois pelotões,o do alferes Coelho
, o meu, e o do
alferes Freitas, acompanhados pelo esquadrão de Cavalaria.
Passadas as águas e a ponte, sofremos uma fortissima emboscada com rebentamento
de vários fornilhos ao longo da zona de morte. Como habitualmente fazia, nestas circunstâncias,
depois do tiroteio parar, levantei-me e, juntamente com o furriel Ferreira, comecei a percorrer
a picada perguntando se tinha havido baixas.Vi varios estragos que a Fox tinha provocado
no inimigo e continuamos até à cabeça
da coluna onde estava o rebenta minas, já inoperacional, e
com o condutor muito mal tratado e a queixar-se de forte sede, ao que o Ferreira prontamente
respondeu dando-lhe água do seu cantil.
Quando voltei ao meu lugar no pelotão soube que o alferes Freitas tinha sido atropelado
pelo nosso próprio Unimog.Acidentes deste tipo acontecem porque, na altura das emboscadas
o condutor, tal como outro combatente, não deve ficar no interior da viatura e, então, apenas
desliga a ignição forçando a paragem da mesma. Entretanto o heli já tinha chegado, levando
para para o hospital o condutor do rebenta minas, ficando de voltar para levar o alferes Freitas.
Como o tempo foi passando e o heli não regressou, pois não voava após o sol se pôr, o alferes
Coelho disse-me para levar , com a minha secção, o alferes Freitas a Mueda.Expliquei ao alferes
Coelho que com apenas uma secção se o inimigo estivesse para trás e nos encontrasse, de certeza
que nenhum de nós chegaria a Mueda. Perante a minha insistência , foi-me dada mais uma secção.
Não houve problemas no caminho e chegámos ao hospital onde ajudei a levar a maca e quando
a coloquei no chão deixei cair, vindo do meu cinturão, uma granada defensiva que rolando foi
parar aos pés do tenente médico que, livido, ficou a olhar para mim.Depois de perguntarmos
pelo estado do condutor - soubemos que não tinha resistido - voltamos de novo para junto
dos nosso camaradas, que nos esperaram no mesmo local , e em conjunto dirigimo-nos
para o aquartelamento de Nacatare.
Encontramos as tropas perfeitamente desmoralizadas e muitos efeitos dos ataques sofridos.
A cantina estava em muito mau estado e a secretaria ou o depósito de géneros tinha levado com
uma munição de canhão sem recuo.Dormimos debaixo das viaturas e começamos a observar, junto
ao arame farpado. muitas luzes que os locais disseram sêr do inimigo, no entanto mais me pareciam ser
de pirilampos.
Mais uma vêz regressamos ao ponto de partida, Mueda, onde constatamos que a intenção do
alferes Freitas em participar do condutor não se concretizou.
José Fernando Pascoal Monteiro (
Ex-Furriel Miliciano )
PS:
Esta história foi contada durante um dos almoços Sulistas.
O Cardoso disse que "naquela altura ainda não havia canhões
sem recuo". O Freitas apenas disse " Isso não é verdade ".
Da minha parte digo apenas que " esta é a minha verdade ".Temos
que levar em conta que o tempo, ( 40 anos ) pode ter levado alguns pequenos
pormenores.