Niassa ( Ou o barco da tristeza )
Foi no dia 12 de Abril de 1967 que embarcámos, de comboio, em Vila Real com destino á estação
de Santa Apolónia e daí, em autocarros, de primeiro andar, para a estação maritima da Rocha Conde de Óbidos.
Alguns familiares e amigos lá estávam para se despedir de mim.O meu pai saiu de casa com a intenção
de me dar um abraço, no entanto não conseguiu e voltou para casa, para junto da minha nãe.
O cais estáva apinhado de gente, muito choro misturado com gritos e lágrimas.
Toca o Hino Nacional, o barco começa a afastar-se.A bordo, a palavra que mais se ouve é - MÃE -.Os
nossos semblantes estávam carregados, não havia sorrisos.Tudo isto nos apanhou com apenas vinte/vinte e dois anos,
no inicio da nossa juventude.Era a primeira vêz que me separávam dos meu familiares, por tão longo tempo.
Conjuntamente com alguns camaradas, fomos para o refeitório tomar o pequeno almoço, indo o barco quase a
sair a barra, tendo como pano de fundo a marginal. Já na mesa, fomos surpreendidos com um pequeno almoço
de garfo, arroz com salsichas , pois como iamos para Moçambique alí era costume tal mata-bicho.
A vida a bordo teria que sêr diferente, alguns exercicios de salvamento, muito descanso e por vezes
cinema nocturno.Marcou-me, ainda hoje me lembro, as condições de viagem dos praças, pois era nos porões
que se encontrávam as camas. Cerca de oito dias depois, fizemos a nossa primeira paragem em Luanda.Já estávamos em
África, o que para nós era tudo absolutamente novo.De novo a bordo, rumámos a Moçambique e ao seu
porto, e capital, Lourenço Marques.Aqui todo o batalhão desfilou, perante a absoluta indiferença da população civil.
Novamente a bordo, fomos percorrendo a costa moçambicana, com várias paragens, até ao desembarque
em Mocimboa da Praia, onde chegámos a 10 de Maio.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex-Furriel Miliciano )
Linda - a - Velha, Agosto de 2011
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