O comando
J
á estava há alguns meses em Mueda, já conhecia bem os cantos à casa, já tinha
feito operações quer com comandos quer com páras, as chamadas tropas especiais. Os páras
raramente apareciam no nosso quartel, estavam ligado à força aérea e alimentavam-se muito
melhor na base aérea. Os comandos traziam todo o seu material de campanha e acampavam
em frente ao nosso quartel, mas um pouco distante e do outro lado da picada. Apareciam, não muitos,
na cantina da minha companhia e na da CCS, algumas vezes porque conheciam alguém, outras
para beber uma cervejola fresca.
Num dos serviços de sargento de dia, já quase de noite, porque ela aparece cedo em África,
fui chamado por uma camarada da minha companhia que me disse:
- Furriel, vá ali à nossa cantina porque há chatice com os comandos.
Quando cheguei à cantina , já o caso estava bastante calmo, vi um camarada com o nariz a pingar
de sangue e o comando , só o identifiquei pelo crachá, com um olho já a começar a inchar. A luta
continuou mas só de palavras. Coloquei-me no meio dos dois e quiz ouvir o que cada um dizia e
virei-me para o meu camarada:
Então diz lá como esta merda começou.
- Estes gajos aparecem aqui como pavões e com o crachá a luzir pensando que são mais que os outros.
Só isso??? foi por isso que começou?????
- Não foi por isso, começou por nos chamar tropa macaca, tropa pacaça e que eramos
uma espécie de tropa para todo o serviço.
Virei-me para o comando e perguntei-lhe.
Diz lá porque isto começou.
- Apenas quiz beber uma cerveja e o homem do bar não me queria servir e este aqui apoiou-o e
chamou-me filho da puta e cabrão. Eu que tenho a minha mãe e a mulher na Metrópole, não permito
que alguém me ofenda.
Vocês , os dois, já estão com muitas cervejas bebidas e tu , comando, vem à minha frente e vou
levar-te ao teu acampamento e nem penses regressar aqui com mais camaradas teus para a vingança.
- Não, Furriel, vou direito à minha tenda mas não me apresente a nenhum oficial da minha companhia.
- Combinado.
O comando ia à minha frente, cambaleava tanto que mais parecia um marinheiro em noite de tempestade.
Passei pela porta de armas, atravessei a picada , passei pelo edificio dos oficiais e continuamos a
caminhar até que encontrámos o acampamento. Encontrei um camarada dele e disse-lhe para o
acompanhar directamente para o seu dormitório.
Como conhecia o oficial de dia, contei-lhe o que se passou e que não iria colocar nada no
relatório.
Passados alguns dias aparece-me na minha flat um soldado, todo aprumado, e com um
olho da cor do meu clube, lembrei-me imediatamente do caso. Veio agradecer-me por não ter
participado da ocorrência. Acabamos, eu, ele e o camarada da minha secção, a beber uma
cervejola na mesma cantina da ocorrência. Uma cervejola para cada um, que fui eu a pagar.
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