No inicio deste ano,
Muito se ouve falar
Na rádio, televisão e jornais,
Da guerra do Ultramar.
Apaixonado que sou
Pela historia de Portugal,
Fico atento a estas notícias
Da Guerra Colonial.
Gosto de ter bem sabido
O que faz parte da nossa historia.
Neste assunto estou a vontade.
O meu avô, tem desta guerra grande
memória.
Quando falamos do Ultramar,
O meu avô recua no tempo.
Conta historias, chora e ri.
Mostra-me os versos que lá fez, com talento.
Tem esses versos escritos
Em papel já muito velhinho.
Guarda-os há mais de 40 anos,
Num lugar bem escondidinho.
Como gosto de os ouvir ler!
São a sua vida, tal e qual.
Fazem parte da sua história,
E também da de Portugal.
Como adoro o meu avô,
Gostaria de o homenagear.
Transcrevendo nesta poesia
Uns versos que ele fez no Ultramar.
Sei que não somos poetas
Nem pretendemos vir e ser.
Falamos daquilo que sentimos
Ninguém mais o poderá fazer.
Tantas coisas que ele me conta
E que eu escuto com atenção.
Umas… muito agradáveis de ouvir.
Outras…confesso que não.
Mueda e Moçambique
As terras por onde andou.
No NIASSA partiu de Lisboa,
No PÁTRIA à metrópole regressou.
Cada dia que lá passava
Muita coisa acontecia…
A dor e a raiva eram imensas
Quando algum colega morria.
E foi num destes dias de dor
Que o meu avô quis registar
Num papel fino, escrito a verde
Os versos que vou apresentar.
Verde, era a cor da esperança
De com vida a Portugal regressar
Se o inimigo não a ceifasse,
Como ao Saraiva foi calhar.
O meu avô escreveu:
“O dia escureceu, o sol se escondeu, a noite
vai chegar…
Uns lutam lá fora, à espera da hora
que os vai vitoriar.
Triste pensando, nos que andam lutando, na caserna
entrei…
Acendi um cigarro, bebi um trago e observei:
Rostos calados, pressentimentos malvados que me
assaltam a ideia.
Caras crispadas, aparência feia.
Jogam-se as cartas,
Palavras ingratas, grande discussão.
Rádios a tocar, olhos a chorar,
Grande confusão!
Chegou a coluna, tudo se apruma com bom ouvido.
Cobertos de pó, diziam com dó:
- Um morto e um ferido…
Lágrimas atrevidas
Correndo com raiva.
É grande a calamidade, porque a fatalidade
Atingiu o Saraiva!
Por momentos, silencio…
Seguidamente, vozes gritantes, juram vingança
em breves instantes.
As cartas rasgaram-se, os rádios apagaram-se,
a alegria terminou.
Pois ao nosso barracão o Saraiva não
voltou.
Como é triste pensar que podemos não
voltar.
É um sobressalto horrível, esta frase
terrível:
É GUERRA, É GUERRA, É GUERRA.
Este caso não foi o único
Outros marcam sua história.
Para mim este é especial,
Por meu avô o guardar na memória.
O meu avô é ex-combatente
Da guerra do Ultrammar,
Que teve inicio há 50 anos
E que eu quero recordar.
É um orgulho sem dúvida,
Ter um avô, herói do Ultramar.
A história desta guerra
Ele gosta de ensinar.
Com ele vou aprendendo
Uma coisa de cada vez.
Tenho o dever de conhecer a nossa história
Para ser um bom português.
João Pedro Ferreira Lima ( Neto de
João Augusto Rodrigues Ferreira )